PARADA DE CUNHOS DESPEDE-SE DE MONS. JOÃO PARENTE

PARADA DE CUNHOS DESPEDE-SE DE MONS. JOÃO PARENTE

O povo de Parada de Cunhos «despediu-se», no passado dia 14, de mons. João Parente, primeiro na celebração da eucaristia dominical e depois durante um almoço realizado numa unidade hoteleira da cidade. Por sua vez, monsenhor João Parente, que foi pároco desta freguesia durante 22 anos, com a anuência dos paroquianos quis deixar a marca da sua valiosa passagem por esta freguesia, oferecendo-lhe um cruzeiro, gesto a que se associaram a família Catalão, que ofereceu o terreno onde aquele monumento religioso foi implantado, e a junta de freguesia que custeou as obras da envolvência do monumento.
A eucaristia, celebrada pelo padre Horácio, o novo pároco, foi de acção de graças pela acção apostólica do homenageado, sacerdote também vocacionado para a valorização e preservação do património religioso e profano da freguesia, do concelho e da região. A missa pareceu semelhante a outra qualquer de domingo. Mas não o foi. Trazia consigo um outro sentido, um outro espírito. O ambiente tinha a marca de um adeus, não para sempre, obviamente, de um agradecimento e de uma saudade. O ofertório foi o primeiro momento em que isto se tornou visível e audível. Crianças da freguesia subiram ao altar, onde mons. João Parente coadjuvava, e ofereceram-lhe 22 rosas brancas, enquanto o coro cantava: “De vós nos despedimos com carinho./ Tomai as nossas rosas com amor, monsenhor.”
Aquela missa tinha uma solenidade inusual. Preiteava-se um amigo importante, porque confidente incondicional, porque congregante de vontades, porque conselheiro em bons e maus momentos, porque representante de Cristo. Por isso, quando o final da eucaristia se anunciava, o paroquiano Agostinho Quintelas subiu ao «púlpito» para sinteticamente historiar a vida paroquial, cultural e docente de monsenhor João Parente. Lembrou a data do seu nascimento, 13 de Maio, interpretando-a como um dia simbólico a prenunciar os caminhos que o sacerdote seguiu na sua vida nos domínios citados. Enalteceu o pároco que soube ter sempre uma “palavra amiga nos momentos de desânimo” e foi capaz de “granjear o respeito da freguesia”. Dedicado à paróquia, percebeu, mal a ela chegou, que havia um outro trabalho a fazer: restaurar o património religioso em avançado estado de degradação. Pelo seu apostolado, pelo empenho em resolver os problemas espirituais e materiais, Agostinho Quintelas terminava esta sua breve alocução “a dizer bem alto: muito obrigado, mons. João Parente.” Se um pároco saía outro entrava. Por isso quis “desejar ao novo pároco as boas-vindas e a quem certamente não lhe faltará ajuda ao trabalho a desenvolver.”
Porque o momento era especial, a vereação municipal fez-se representar pelo dr. Domingos Madeira Pinto e pelo engº Miguel Esteves que ali estavam também a título pessoal.
Para o dr. Domingos Madeira Pinto ” o padre João Parente ao longo de 22 anos de sacerdócio ajudou as pessoas não só na perspectiva espiritual – e hoje tivemos uma boa prova disso, pelo saber estar, pelo saber conviver e inter-agir com as pessoas – e também com a parte material, com a inauguração deste cruzeiro. É desta maneira que nós nos devemos sentir mais felizes por fazer bem. O município não poderia deixar de estar presente hoje, reconhecendo todo o papel na valência histórica, na perspectiva até do próprio trabalho pela região e pelo concelho na parte arqueológica, na parte numismática, e acima de tudo numa perspectiva muito forte nesta sociedade que cada vez mais precisa de reflectir que é de fazer bem pelas pessoas. E monsenhor João Parente é sem dúvida um ícone dessa mesma referência.” Por sua vez o engº Miguel Esteves analisou esta homenagem como um momento de festa, ” um agradecimento da freguesia a um pároco que esteve aqui durante 22 anos, onde deixou obra, um homem com muito conhecimento, muito saber, nomeadamente na arqueologia”. O título pessoal, habituou-se a admirar o padre João Parente, “às vezes à distância, mas outras vezes convivendo com ele. Tem sido uma pessoa disponível e daí o envolvimento de toda a população, também associado a uma lembrança que ele quis deixar para memória futura, o cruzeiro.”
Manuel V. Alves Cabral, presidente da Junta de Freguesia de 1976 a 2005, via com muita tristeza a saída do padre João Parente, “um homem que fez muitas obras na freguesia de Parada de Cunhos, que esteve sempre a frente das coisas, que se dava bem com toda a gente. Vai deixar saudades” , disse.
Tanto louvor! “O que ouvi faz-me saudades”, disse mons. João Parente, como resposta inicial. E continuou: “Tudo aquilo que eu fiz, não fui eu, foi o Senhor. (…) A igreja estava a cair. Vim para aqui para a restaurar, com a vossa ajuda. Esta igreja foi restaurada por vós, eu só orientei os trabalhos.” Agradeceu à família Catalão a doação do terreno para a implantação do cruzeiro e à Junta de Freguesia por se ter disponibilizado a realizar a obra da sua envolvência. Depois fez um apelo final: ” estimai a vossa igreja e amai o Senhor”. Com a emoção controlada, foi finalizando: “Vós sois a coroa que eu tenho no meu coração. Esta é uma despedida não despedida. Sabeis onde moro. É só bater à porta”… Seguiu-se uma pequena procissão até ao cruzeiro que o padre João Parente benzeu.

Ribeiro Aires